fbpx

 Mais um conto! Este foi para uma editora…:)  Está bem grande, né?


Conto 32-Entre a caça e os caçadores
autora: Vivianne Fair
Jessi e Zack

Quando minha mãe afirmou que meu trabalho seria fácil, eu acreditei nela. Estava na moda, eu poderia usar roupas incríveis o tempo todo, e meu salário, nossa! Daria inveja a qualquer
concursado. Pois é, só que seguir a tradição da família não é tão fácil como assumir uma empresa quando os pais morrem ou coisa assim.
Definitivamente ser caçadora de vampiros não estava na minha lista de ‘o que eu quero ser quando crescer’ no jardim de infância.
 
Acha fashion, não é? Passou pela cabeça que pode ser perigoso? Nem todos são charmosos como o Edward de Crepúsculo ou sexys feito Lestat, de Entrevista com Vampiro. Alguns são mesmo sanguinários; Conde Drácula não estava para
brincadeiras.
Nossa, onde estão meus modos? Desculpe; estou um pouco estressada já que estou aqui caçando Zack, o vampiro mais sexy,
gato, irritante e gozador que já existiu e não consigo nem chegar perto dele.
Sou Jéssica, a propósito. Ruiva, 29 anos, louca para arrumar um marido e estou aqui, bancando a adolescente para enganar a universidade. 
Ele se esconde, bancando o gato e o rato comigo. Gato, não tenho a menor dúvida. Eu o arrastaria para o altar se ele não
se desintegrasse ao entrar na igreja. O pior é: ele sabe que sou amadora, os outros vampiros morrem de medo dele e, segundo o próprio Conselho – a organização que me contratou porque aparentemente meus pais são fantásticos caçadores de vampiros e acham que isso é passado para os genes –, Zack é forte
demais pra mim e desejam agora a minha desistência.
 
Mas já gastei uma fortuna em roupas por conta e não posso me dar ao luxo de voltar para casa de mãos abanando.
– Oi, safadinha…
Gelei e deixei cair o spray de água benta ao ouvir aquela voz quase dentro do meu ouvido.
Esse apelido é revoltante. Quando ele
invadiu meu quarto e descobriu toda a minha coleção de DVDs de Buffy, Angel, livros como Diários do Vampiro, Nosferatu,
Crepúsculo e etc., cismou que caço vampiros porque sou tarada. Como se
viver em perigo fosse um hobby doentio.
Quando tentei me agachar para pegar o
frasco, ele segurou minha cintura e puxou-me para perto dele.
– Ganhei. Sou mais forte, mais rápido,
mais esperto, mais…mais…
– Metido? Irritante? Convencido?
– Realista – ele beijou meus cabelos –,
sedutor… divertido…
 
E perfeito, meu cérebro dizia. Mas era
justamente esse o problema. Ah, e o fato de que eu deveria matá-lo. Bom, o Conselho nunca me disse quando. Também nem sei como, mas isso são detalhes. Não tenho coragem de jogar água benta e derreter esse rostinho lindo. Nem força para descer-lhe a estaca. E a última vez que tentei atacá-lo com alho, Zack teve uma crise de espirros hilária.
Ai meu Deus, estou muito ferrada.
– Então, Coringa, qual sua próxima
armadilha? – ele provocou, sorrindo.
Suspirei. Já tentei convencê-lo que eu sou a mocinha, mas ele afirma que Batman só sai à noite, ama morcegos e vive de preto, o que me levou a pensar se Batman não seria um vampiro vegetariano do bem.
 
– Vou amarrá-lo no ponteiro de um relógio no alto de uma torre e deixá-lo deslizar suavemente para uma banheira de água
benta enquanto um ratinho lentamente rói a corda que te amarra.
– Hum, isso pode levar a noite toda.
– Então o Sol te mata – dei de ombros –, mais fácil ainda.
– Eu tenho uma ideia melhor…
Ele me jogou no chão e deitou-se em cima de mim, apertando-me contra a grama.
Certo, querido, se você não me morder agora quem te morde sou eu!
– Eu não vou te morder, Jessi – ele murmurou como se adivinhando meus pensamentos, passeando os dedos pelos meus cabelos enquanto me mantinha segura pelo braço com a outra mão. – Mas você sabe que nem sempre mantenho o controle.
– É, nem eu.
– O que é mais difícil de controlar? Os vampiros ou seus hormônios?
– Ambos são páreo duro.
Enquanto eu lutava para não sair debaixo dos braços dele, algo
afiado cortou a nossa conversa. Literalmente falando. Uma estaca cravou-se na árvore ao nosso lado, passando a centímetros do rosto de Zack.
Que desaforo! Zack é o vampiro que eu tenho que matar!
– Mas o que… – ele sibilou, pondo-se de pé.
Na hora em que me vi livre, praguejei e levantei, buscando meu frasco de água benta. Não para Zack, mas para o fura-olho que se intrometeu na nossa… conversa.
Foi então que senti a presença de outro vampiro. A presença surgia e voltava, como se estivesse correndo muito
rápido. Ou num bungee jump.
Zack arregalou os olhos e sussurrou, tentando avistar por cima de meus ombros.
– Temos companhia… duas.
– Dois vampiros?
Ele fitou a estaca cravada no tronco com uma expressão de desdém.
– Não. Um é vampiro, e está muito ferido. O outro parece ter um poder estranho.
– Outro caçador! – murmurei alarmada, sabendo que caçadores de vampiro têm a vantagem de possuir o desenvolvimento de
dons especiais.
Não considero meus dons especiais, mas
ridículos: derreter metal, grito de mandrágora e teletransporte – esse seria
bom se funcionasse quando eu quisesse. Quando estou nervosa as coisas somem –
literalmente – e nunca sei para onde vão. Uma vez Zack sumiu e fiquei com medo
de tê-lo mandado para o quinto dos infernos.
– Então tem outra galinha ciscando no meu
terreiro… – murmurei, irritada.
Zack balançou a cabeça.
– Se continuar usando essas expressões do
tempo da vovó, vão acabar descobrindo seu disfarce.
– Do tempo de que vovó? Da sua é que não
é!
Nosso papo animado acabou sofrendo outra
cortada. Desta vez uma flecha de madeira atravessou a estaca que antes estava
travada na árvore, partindo-a em duas.
– Pontaria o cara tem – engasguei.
– Se tivesse mesmo teria me acertado. Mas
acertar o próprio erro, essa foi fenomenal. Temos que nos preocupar com o
vampiro.
– Você não disse que o cara está ferido?
Não devíamos nos preocupar com o caçador saudável?
– Jessi, o vampiro perdeu muito sangue. Dá
para sentir pelo cheiro. Isso quer dizer que ele vai estar desesperado por
mais. Resumindo, o cara vai correr atrás de uma fonte fácil. O caçador com
certeza não é. A rua está completamente deserta porque passa da meia-noite.
Então…
– Então eu. Eu sou uma fonte fácil.
– Sempre foi – ele deu um sorriso
animado. 
– Eu não quero mais brincar – apertei os
dentes, para não deixá-los bater.
– Olha, prometo que quando isso acabar,
vou te dar uma mordidinha hoje. De leve, tá?
Eu devia parecer ofendida, mas estava
excitada e nervosa demais para poder transparecer qualquer outro tipo de
emoção.
– Depois a gente conversa.
– Certo. Então você vai atrás do caçador e
eu, atrás do vampiro. Qualquer problema, grite.
– Não tenha a menor dúvida.
Ele desapareceu como se fosse fumaça.
Invejo muito essa habilidade que eles têm com essas saídas espetaculares. O
máximo que consigo se correr muito rápido é quebrar meu salto novo.
Segurei firme meu spray de água benta e
subitamente senti-me idiota. O caçador é vivo como eu. Não vai fazer efeito
nenhum além de abençoá-lo.
Ajeitei minha saia e saí de perto da coitada
da árvore, tentando manter o ritmo da respiração. O fato é que se ele é outro
caçador do Conselho, nós somos companheiros de trabalho. Então podemos sair,
falar mal do chefe – embora eu não saiba quem é – e tomar um cafezinho. Tudo
sob controle.
Segui na direção de onde vieram as armas
de madeira e avistei um vulto esconder-se por trás de um muro. Quando estava
enchendo o peito para dar um grito e avisar “ei, sou amiga!”, uma nova estaca
cruzou o espaço em minha direção, fazendo-me jogar o corpo na calçada. Então a
primeira frase que saiu foi:
– EI, VOCÊ É IDIOTA?
De qualquer forma, surtiu efeito. O vulto esgueirou-se, andando lentamente
para perto de mim, com uma besta apontada para minha cabeça. Para quem não
sabe, besta é uma espécie de arma que dispara flechas, podendo também ser o
tipo de pessoa que segura essa droga.        
– Quem é você? – a voz dele soou seca e
fria.
– Sou uma caçadora de vampiros também,
como você. Do Conselho. Quer abaixar esse troço?
Ele ergueu uma sobrancelha e desceu-a
lentamente.
– Hum. Isso explica o cheiro de vampiro
que está impregnado em você.
É, isso e o fato do vampiro em questão e
eu termos dado uns amassos algumas horas antes.
Ele me ajudou a levantar. Era forte,
cabelos castanhos escovados para trás e até que não era de se jogar fora.
Vestia-se todo de preto, incluindo a jaqueta e a calça de couro. Um estilo meio
exagerado, mas quem sou eu para discutir? Afinal combato vampiros usando salto.
Prada.
– Pensei ter avistado… bem, não pode
ser. Você já estaria morta.
– Q… quem?
– Bem, é um vampiro famoso. Você não o
conheceria.
Arrogante. Ninguém é perfeito.
Só Zack.
– Zack.
– Hum? – assustei-me, achando que ele
tivesse lido meus pensamentos.
– Esse é o nome do vampiro famoso. Mas o
Conselho não deixa ninguém matá-lo. É perigoso demais. Se eu conseguisse, seria
uma lenda.
Zack, perigoso? Só se for para as mulheres
mesmo. Qualquer uma cai aos pés dele. Acho sinceramente que o chefe do Conselho
é uma mulher que está na verdade querendo se vingar por ele ter lhe dado um
fora. Mas se o chefe do Conselho for homem, é inveja grossa, totalmente
justificável.
Foi então que algo estalou dentro de mim.
Aquele cara estava caçando um vampiro ferido, esgueirando-se por aí, com Zack ao
seu encalço. Se o caçador avistasse Zack, mudaria de alvo na mesma hora. Aah,
não, de forma alguma. Não divido minha caça com ninguém.
– Bem, então… que acha da gente tomar um
café, senhor…
– Blade.
Arrogante e convencido. Blade é um
personagem caçador do qual esse aí não chegaria aos pés nem se passasse férias
com o Rambo.
– Certo senhor Blade, que acha da gente
tomar um café lá na universidade e descansar um pouquinho? Andei caçando também
e estou um caco!
Ele me olhou como se eu tivesse acabado de
arrancar as orelhas de um coelhinho com os dentes.
– Está louca? Nunca antes de terminar o
serviço! Vampiros se recuperam depressa, você sabe.
Por incrível que pareça, sei coisas mais
interessantes. Eles ficam lindos sem camisa, por exemplo. Tem delineador
natural. Os olhos refletem a luz da lua de maneiras diferentes quando…
Ei, onde está o caçador?
Torci o pescoço para vê-lo pular um muro
alto, dando um salto apenas. Que tipo de poderes aquele cara tinha? Como
poderia avisar Zack sem que o cara me visse ou o visse?
Só havia uma maneira.
Mandando mensagem no celular. Que ótimo
caçar um vampiro que acha a tecnologia divertida.
“Zack, o caçador se chama Blade e acabou de
sumir de vista. Não quis tomar café comigo”
Digitei, tropeçando nas teclas e sentindo
o suor descer gelado pelas minhas costas. A mensagem de resposta chegou
segundos depois.
“Foi só isso que você descobriu? Caramba,
Jéssica, o Conselho te contratou pelo quê? Tem certeza que leu as cláusulas do
contrato direito? Abaixa!”
Ergui uma sobrancelha, irritada – até por
celular esse vampiro me zoa – e apesar de estranhar a sutileza da mensagem, ajoelhei no chão, sentindo um golpe de ar passar pelos meus cabelos no momento exato em que agachei. O vampiro ferido passou a toda por cima de mim, sendo seguido por Zack.
 
– Jessi, você não deveria estar fazendo algo de útil?
Ele riu e pulou por cima de mim, jogando terra na minha roupa nova. Levantei-me praguejando e fechei os olhos para me
concentrar.
A vantagem de ter pais caçadores é que a
genética funciona bem, obrigada. Os poderes, apesar de serem imbecis, são por
vezes úteis. Senti uma onda de poder emanar de dois pontos distintos. Uma forte
se distanciando e uma mais fraca seguindo perto do muro. A mais fraca só podia
ser do caçador, já que Zack é uma fonte ambulante de força – opa, calma
hormônios – então segui para o leste, esperando interceptar o tal Blade.
 
Depois de uns bons dez minutos, torcendo no meu íntimo para que Zack já
tivesse dado cabo do vampiro, passei por um buraco no muro e já estava pronta
para gritar “parado aí” e receber uma estaca bem no meio da testa quando recebi
uma nova mensagem do celular.
“Onde você está?”
 Ergui a sobrancelha. Como meu vampiro muda
rápido de ideia.
“Seguindo o caçador; não foi o que
combinamos? Pegou o vampiro?”
Segundos depois, recebi a resposta.
“Mudança de planos. Vire à esquerda e siga
em frente. Te encontro perto da casa na esquina.”
Metido. Por que eu tenho que ficar
seguindo as orientações dele se, na verdade, ele devia temer a mim?
Porque este é o mundo real, Jéssica. 
Obedeci à mensagem e segui rumo à única
casa que parecia saída de um filme estilo “Jogos Mortais”. Era escura, sinistra
e deserta. Se eu não estivesse indo encontrar o homem mais lindo do mundo,
estaria apavorada a esta altura.
– Psst!
Virei para o lado de onde estava saindo a
voz e me deparei com Zack, parecendo mortalmente ferido.
– ZACK!!
Agachei-me ao lado dele, tentando observar
melhor o tamanho do estrago. Era uma cavidade do tamanho de uma palma da mão no
ombro, por onde escorria quase um rio de sangue.
– Minha nossa! Você não disse que esse
vampiro seria mole de matar? Você já eliminou uma dezena deles; qual foi o
problema em acabar com um que já estava semimorto? Certo, morto, mas quero
dizer mortalmente ferido… ou imortalmente ferido? Esse jogo de palavras me
cansa!
Ele levantou os olhos fracos para mim e
senti um aperto no peito. Claro que qualquer um pensaria “olha que oportunidade
você tem para matá-lo!”, mas ele ainda tem um belo par de olhos. 
– Acho que o subestimei… – a voz dele
saía quase num fio. – Preciso do seu sangue…
Gelei. Zack sempre me dava mordidinhas,
mas evitava tomar meu sangue de verdade porque dizia que talvez não fosse capaz
de parar, principalmente depois de já ter experimentado uma vez. Mas e agora
que se sentia tão fraco? Não era seu costume arriscar-se ou me arriscar dessa
forma. E se o Conselho descobrisse (digamos, caso eu não morresse nessa
brincadeira?) eu estaria suspensa, ou pior, despedida!
– Acha que é mesmo necessário? Quer dizer,
você não pode estancar o sangue e esperar um pouquinho pela recuperação absurda
que vocês têm?
Ele gemeu e ergueu-se, suspendendo-me
firme pelos ombros.
– Não há tempo! Os dois estão atrás de
mim!
Ele abraçou-me com intensidade e, antes de
esperar pela minha resposta, cravou os dentes em meu pescoço. O ar faltou, assim como minha falta de
determinação. Eu estava completamente entregue, como da última vez. Mas desta
vez não foi como antes; ele me apertava com sofreguidão, sugando meu sangue
como se fosse algo que havia esperado muito tempo. A maravilhosa sensação que
tive antes, aquele êxtase presente na mordida dos vampiros, começou a esvair-se
rápido. Não consegui empurrá-lo, mas estava começando a sentir fraqueza em
minhas pernas. Meu frasco de água benta caiu das minhas mãos e tudo começou a
rodar.
O que estava acontecendo? Zack já não se
importava comigo para resolver eliminar-me para salvar sua vida? Eu não ia
durar mais que alguns minutos, mas não consegui empurrá-lo. Minhas pernas
começaram a falhar e ele me segurou firme, sem um instante sequer tirar os
dentes da cavidade do meu pescoço.
Quando eu mal podia manter meus olhos
abertos, vi dois Zacks me encarando. Na verdade, um tinha os olhos fechados,
enquanto me secava, o outro tinha os olhos arregalados, com uma expressão de
pavor na fronte linda. Este se agachou ao meu lado e em seguida escutei um
grito e um chiado, ao mesmo tempo em que estava caindo ao chão. Senti um braço
firme me segurar enquanto o rosto lindo do Zack que estava sugando meu sangue,
começou a derreter se contorcendo num grito de uma criatura grotesca. De
repente não era mais Zack, mas um ser que já estava deformado, loiro, olhos
castanhos, magro.
– Caramba, safadinha – Zack falou, quase
com um sussurro –, você costumava ser mais cuidadosa. Nunca consegue resistir
ao meu rosto lindo, mesmo que não seja propriamente o meu?
Senti minha força voltar aos poucos e
cambaleei nos braços dele, tentando firmar-me de pé. O que me atacara antes já
não era mais Zack, mas pude perceber que era o vampiro que Zack estava
perseguindo se desfazendo no chão, enquanto Zack continuava a apertar o spray
de água benta para mantê-lo afastado.
– Como… Como ele sabia meu nome? –
murmurei incrédula, sentindo-me idiota por ter sido enganada pelo poder de
ilusão vampiresca.
– Ele disse seu nome?
– …. Hum, não – senti-me mais idiota
ainda. – E por que você me mandou mensagem no celular pedindo para te encontrar
aqui?
– Aah, isso me lembra o outro poder que
esse vampiro tem.
Ele agachou-se e remexeu o bolso do cara,
enquanto esse se desfazia, puxando de lá um celular.
– Dedos leves.
– E eu que não tomo cuidado com as minhas
coisas, né? Como ele descobriu meu número? Você escreveu “safadinha – caçadora
de vampiros” no meu número para ele supor que era eu?
– Na verdade sim. E segundo, ele deve ter
ficado curioso ao me ver digitando mensagens enquanto corria atrás dele.
– Nem todo mundo consegue fazer essas
coisas. Gente é atropelada. Pessoas são multadas quando usam o celular
dirigindo.
Zack me abraçou forte e suspirou.
– Você só se mete em encrenca, nunca vi.
Primeiro recebe a incumbência de matar o vampiro mais poderoso do mundo, ou
seja, eu, depois é enganada por qualquer rostinho lindo.
Nem me dei ao trabalho de responder. Nunca
tenho argumentos suficientes.
O vampiro que Zack seguia se desfez em
cinzas. Subitamente uma estaca afiada passou por nós raspando, mas desta vez
deixando um rastro sangrento no ombro de Zack antes de fincar-se na árvore à
nossa frente. Meu vampiro deu um gemido agudo e jogou-se no chão, segurando a
ferida com força. O caçador estava vindo, correndo para ver se havia acertado a
presa. Eu não sabia o que fazer, mas percebia que não tinha mais como proteger
Zack. Assim que o caçador o visse estaria tentado a eliminá-lo a qualquer
custo. Então abaixei ao seu lado e imaginei Zack bem longe dali. Um lugar onde
pudesse estar em segurança. Apertei seu braço e ele desapareceu. Meu poder
funcionara certinho desta vez, mas tenho medo para onde posso tê-lo mandado.
– Onde ele está? Eu o acertei? – o caçador
chegou sôfrego, com olhos arregalados.
– Sim, acertou! – eu respondi, sorrindo
animada e apontei. – Foi bem a tempo, veja as cinzas!
Ele sorriu orgulhoso e então ergueu uma
sobrancelha. A trajetória da estaca não coincidia com o lugar onde as cinzas do
vampiro estavam posicionadas.
– Mas como…?
Dei de ombros.
– Você sabe… esses caras são cheios de
truques.
O caçador assentiu.
– Bem, pensei ter avistado Zack novamente,
mas só pode ter sido uma ilusão. Você
estaria morta a esta altura.
Nossa, ele não poderia estar mais certo e
mais errado ao mesmo tempo.
– Bem, recebi uma nova mensagem do
Conselho. Preciso ir. Você ficará bem sozinha?
– Claro, oras. Sou caçadora, esqueceu?
Ele me olhou de cima a baixo, me
analisando.
– Não, não esqueci. Por isso eu perguntei.
Antes de eu entender para poder retrucar,
ele deu-me as costas e afastou-se. Com um sorriso sem graça – porque caçadores
não têm o hábito de sorrir – acenou e seguiu seu caminho. Eu o acompanhei com o
olhar, com um sorriso também amarelo e esperando o cara sumir de vista.
– Ai, meu Deus… – murmurei, preocupada –
e agora, como acho o Zack?
– Em cima da árvore – veio a voz sexy
dele, parecendo estar segurando a risada.
– Eu te mandei só pra cima da árvore? – eu
arregalei os olhos e comecei a escalá-la, tentando não rasgar minha meia calça.
Zack estava deitado em um galho longo e largo, segurando o ombro com uma das
mãos. Ainda bem que a árvore era daquele tipo frondoso, porque se o caçador
tivesse percebido sua presença… deve ter confundido com a presença do vampiro
anterior.
– Por que te mandei só aqui pra cima? Eu
costumava te mandar pra mais longe!
– Sem dúvida. Para o “raio que te parta”,
para “o quinto dos infernos”… outros lugares que prefiro não dizer o nome…
entretanto, você perdeu muito sangue e seu poder enfraqueceu. Mas deu tudo
certo – ele tirou a mão do ombro, onde a ferida já começava a cicatrizar e
sorriu –, ainda tem sangue. Quer dar uma lambidinha e virar vampira? Sua última
chance!
– ECA.
Ele sorriu.
– Sabia que diria isso.
Eu me aconcheguei ao lado dele e Zack me
abraçou forte, suspirando. Depois de alguns momentos em silêncio, Zack
murmurou.
– Então o nome do cara era Blade?
– Sim.
– Cara, que pretensão!
Eu sorri animada.
– E não é?
 
Vivianne Fair
 
 
Pobre Jessi….rsrsrs

 

Tags: |

Sobre o Autor

Vivianne Fair
Vivianne Fair

Autora de diversos livros premiados tais como O Legado do Dragão, Quem precisa de heróis? e a trilogia A Caçadora. Gosta de inventar coisas para fazer e ama ler (obviamente)!

2 Comentários

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.


  1. Oi, Vivi.
    Eu amo as histórias do Zack e da Jessi e foi uma delícia matar as saudades desses dois!
    Beijos
    Camis – blog Leitora Compulsiva

Solicitar exportação de dados

Utilize este formulário para solicitar a exportação de seus dados.

Solicitar remoção de dados

Utilize este formulário para solicitar a remoção de seus dados.

error: Content is protected !!