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Então, eu sou membro Hardcover e hoje publicaram no blog o conto que escrevi para o dia da sogra! 😀


Se quiser dar uma olhada nele lá, clique aqui!


O conto é o primeiro, chama-se Adelaide! 
É a primeira vez que saio da minha zona de conforto, então não esperem comédia desta vez! O que acharam? 😀



CONTO:  Adelaide
Escrito por Vivianne Fair, assinante Hardcover da Vivendo de Inventar.

Estela não estava acreditando no que estava ouvindo. Na verdade, ela sequer acreditava em si mesma. Sabia da fama daquela senhora, mas ainda assim entrou na casa. Talvez quisesse ouvir e ver com seus próprios olhos.

Ninguém sabia direito o nome da vizinha de Ricardo Lumes. Uma mulher reservada, sem muito interesse ou atrativo. Não era ‘da alta’ como seus vizinhos; sua casa era simples no meio das mansões, de tinta descascada e rachaduras nas paredes. Tudo o que fazia era cuidar do jardim e, pelo cheiro que emanava de sua cozinha com frequência, cozinhar. Mas como já estava lá há tempos, muito antes das mansões serem construídas, as pessoas resolveram deixá-la em paz. Apenas a ignoravam. Não sabiam o nome dela. Apenas um “bom dia” ou “boa tarde” apressado, sem olhar em seus olhos, era tudo o que lhe dirigiam.

Claro que havia os boatos. Era uma senhora de 80 anos já, que nunca teve filhos. Seu marido morrera quando ela já contava com seus sessenta anos e vivera sozinha desde então. Às vezes uma bola ou outra caía no seu quintal, e ela a devolvia com carinho e um docinho. Entretanto, os meninos não pegavam de volta. Eram ricos e podiam ter quantas bolas e doces quisessem e não seriam “contaminados” por aquela que todos diziam ser uma bruxa. Matara o marido envenenado, diziam. Sufocara os visitantes ou parentes enquanto dormiam.

Estela saíra da casa da mulher pronta para gritar aos quatro ventos que aquela mulher era apenas louca. Entretanto controlou-se. Afinal, era noiva do famoso empresário Ricardo Lumes e não poderia atrair aquela atenção para si. Mas com certeza contaria tudo ao seu noivo. Ele deveria tomar alguma providência, pensava ela enquanto dirigia-se à casa dele, afinal o que essa mulher poderia espalhar sobre ele? O que seria de sua reputação?

Quando entrou na mansão, dirigiu-se humildemente à mãe de Ricardo, uma senhora respeitável que tomava chá, sentada em uma poltrona branca e coberta de plumas.

– Com sua licença, senhora Agnes.

A mulher olhou-a de lado, como se ela não fosse mais do que seu pequeno animal peludo que pulava de um lado para o outro do sofá.

– Vim ver seu filho, Ricardo. Ah, e trouxe-lhe bombons. Se a senhora quiser, eu…

A mulher fez apenas um gesto de desdém para ela, sacudindo a mão como se fosse enxotá-la. Estela saiu apressadamente, mas ainda feliz por ter conhecido a famosa atriz Agnes Lumes. Quantas mulheres queriam estar naquela situação e noiva do empresário mais bonito da cidade, pensava em seu coração. Ela teve muita sorte.

– Querido, você nem vai acreditar!

Ricardo estava sentado na sala de estar, do outro lado de uma mesa gigante de cedro, preso a anotações. Ultimamente os negócios andavam bem, mas ele sabia que crises financeiras estavam para abalar o cenário mundial e queria estar sempre preparado. Fora bem educado nesse sentido.

– Olá, Estela – ele deu-lhe um sorriso galante, embora sem tirar os olhos do papel – O que houve?

– Sabe aquela senhora do outro lado da rua, aquela que dizem ser uma bruxa? Aquela que te agrediu covardemente anos atrás?

– O que tem ela? – ele não parou de escrever. Tinha uma facilidade muito boa com números e concentração.

– Ela me chamou para visitá-la, acredita?

– E você foi?

– Eu precisei, né? Imagina que ela foi muito simpática e disse que precisava falar uma coisa importante comigo. Assim, no portão da casa dela. Cheguei a pensar que ela fosse ler minha mão ou sei lá.

– E…?

– Ricardo, você nem acredita! Ela disse que ficou sabendo que eu sou sua noiva e me pediu – na verdade quase exigiu! – que eu fosse uma mulher boa pra você! Que eu jamais o magoasse e que você era filho dela! Imagina! Ela achava que era minha sogra! Como se pra mim não bastasse ter só uma!

Ele ergueu os olhos para ela finalmente.

– Ela disse o quê?

– Isso mesmo! Que você era filho dela! A sua mãe Agnes precisa saber disso! Já pensou no boato, Ricardo? Já pensou no que isso pode acarretar?

Ricardo levantou-se e dirigiu-se à janela, uma enorme vidraça que alcançava o teto e dava vista para a rua. De lá ele podia avistar a casa da senhora, que ainda permanecia de janelas fechadas, desde que ele se lembrava.

O nome dela era Adelaide. Um dia, quando chegou com seus pais naquela rua, um garotinho de seis anos, assustado com a mudança, ela se apresentou e disse que estava à disposição. Sua mãe fizera pouco caso. Seu pai disse-lhe que não precisava se incomodar já que nunca estaria em casa mesmo e que o filho Ricardo ficaria com a babá, mas ainda assim lhe agradeceu.  Ela sorriu, acenou e voltou para casa.

Alguns dias se passaram e Ricardo havia feito novos amigos. Um dia, descendo de skate, caiu violentamente e não conseguia andar. Adelaide apareceu, levou-o para casa, tratou de seus ferimentos, deu-lhe uma série de recomendações e um pedaço de bolo para levar para casa. Ricardo comeu pelo caminho, para que a babá não ficasse sabendo.

No dia seguinte, estava indo para a escola e acabou encontrando alguns valentões pelo caminho. Ricardo procurou correr, mas eles o alcançaram. Adelaide viu ao longe os meninos baterem no pobre menino, que os rapazes chamavam de ‘riquinho’ e correu munida de uma vassoura. Não se preocupou em descer a vassoura nos garotos com força, e depois até foi processada pelas mães deles pela violência. Ela nunca mencionou o fato a Ricardo, mas ele sabia, porque um dia o pai comentara isso à mesa, nas poucas ocasiões em que o via.

Sua mãe Agnes nunca estava em casa da mesma forma, porque sempre tinha uma apresentação para fazer ou ensaio para participar. Tirando as festas que Ricardo era obrigado a ir ou as viagens para países que nunca ouvira falar para poder estar com eles, seus pais nunca o haviam levado ao cinema. Afinal, tinham um home theater em casa, e o menino podia pedir ao mordomo que lhe comprasse um DVD do filme que desejasse ver. Foi Adelaide que viu o jovem sentado no chão do jardim, polindo a bicicleta, e o chamou para ir ao cinema com ela e Mário, um homem simpático, marido dela. Ele lembrava de ter se divertido muito naquele dia, mas não do filme. Mário e Adelaide eram muito engraçados e tiraram sarro do filme inteiro.

Ricardo não era bom na escola. Apesar de ter tutores, ele tinha dificuldade em entender. Tinha vergonha de confessar que não dava conta e os pais acusavam a escola de ser negligente, mas ele mesmo não se importava em fazer as tarefas. Um dia, passando com os livros embaixo do braço, Mário o viu cabisbaixo e o chamou para sua casa. O jovem percebeu que ainda estava cedo e resolveu ir, tentando não chorar por causa do resultado da prova.

Mário viu a nota, disse que não estava tão ruim, mas que iria ajudá-lo nas tarefas. Adelaide preparou chocolate quente e biscoitos, enquanto os dois passavam a tarde resolvendo problemas de matemática e focando nos estudos. Ricardo começou a tirar boas notas e mostrava-as primeiro a Mário e a Adelaide antes de mostrar aos pais. Contudo, estes pouco ligavam se não fosse uma nota perfeita. Ricardo começou a não se importar mais em mostrar seu desempenho para os pais.

Um dia, Ricardo fora a uma festa na vizinhança e acabou exagerando na bebida. No caminho curto de volta, bateu o carro em um poste, mas saiu ileso. Movido pela adrenalina, conseguiu encontrar o caminho até em casa, embora um pouco cambaleante. Pouco antes de passar pelo portão, Adelaide o viu, e percebeu o quanto embriagado ele estava. Movida pela fúria, ela saiu de sua casa munida com um cinto e os braços desnudos.

Ricardo nunca apanhara tanto em sua vida. Na realidade, Ricardo nunca apanhara. Os gritos do jovem chamaram a atenção do segurança e seus pais viram, horrorizados, seu filho apanhar como se fosse um moleque de rua. Rapidamente chamaram a segurança e apartaram dele a mulher, que não parecia estar arrependida. Ela se sacudiu para se livrar daqueles que a agarravam, murmurou um xingamento, apertou o robe e voltou para a sua casa, batendo a porta com força.

Ricardo Lumes chegou a virar notícia, como filho de empresário que fora agredido por uma vizinha. A pedido dos pais, eles não processaram a senhora Adelaide, e ficaram ainda mais famosos por terem concedido o ‘perdão’ a uma agressora que provavelmente tinha distúrbios mentais. Ricardo fora proibido de vê-la e agora só saía acompanhado por seguranças.

Adelaide não saía mais de casa com frequência. Piorou, quando alguns anos depois, seu marido Mário morrera. Ricardo a viu caminhando atrás da procissão, mas não muitos se juntaram a eles. Uma comitiva solitária, Adelaide fechada em seu casaco escuro. Muitos anos depois, ela voltara a aparecer no jardim, mas não mais com a juventude e alegria de antes. Adelaide agora era fechada, cuidava apenas de seu terreno e voltava para dentro de casa. Não hesitava em receber os visitantes bem, mas não havia muitos deles.

Muitos anos se passaram. Ricardo era um homem formado, com bom emprego, desempenho excelente, orgulho dos pais.

Olhando pela vidraça, Ricardo percebeu algumas lágrimas caírem no chão e passou os dedos pelos olhos. Estivera chorando e não percebera.

– Querido? Está tudo bem? – Estela inquiriu, preocupada.

Ele teve um súbito lampejo. Odiou a si mesmo naquele momento. Agarrou a mão de Estela que, atônita, não esboçou reação.

Saiu correndo da casa, puxando a noiva pelo braço, surpreendendo os passantes. Abriu o portão da casa de Adelaide, empurrou a porta e viu a mulher que, surpresa, levantara-se do sofá ainda com um novelo de lã na mão.

Sem dizer uma palavra, Ricardo ajoelhou-se aos seus pés, agarrou seus joelhos e murmurou com olhos marejados e coração partido.

– Benção, mamãe… Já te apresentei minha noiva?



Espero que tenham gostado! ^_^ Quem sabe coloco mais contos no blog, não é? Escrevi bem rapidinho…Acho que levei uma meia hora…^^; 



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Sobre o Autor

Vivianne Fair
Vivianne Fair

Autora de diversos livros premiados tais como O Legado do Dragão, Quem precisa de heróis? e a trilogia A Caçadora. Gosta de inventar coisas para fazer e ama ler (obviamente)!

4 Comentários

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  1. Nossa, Vivi.
    Como é que você faz isso comigo?!
    Menina… Estou chorando aqui!! Que texto mais lindo!!!
    Obrigada por iluminar o meu dia!
    beijos
    Camis – blog Leitora Compulsiva

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