Estava devendo vocês, né? Desculpem! Eu tenho a tendência de fazer inúmeros projetos de uma vez e fico perdida neles...Então, este é um conto especial para a bienal (Anny, calma que vou fazer o que você me pediu! rs)! Afinal preparei uma surpresa pra bienal que tem a ver com este conto e que você entenderão em breve! =p (não é nada demais, é só em brinde especial)
Espero que gostem!
Conto 24: A coruja
Jessi e Zack do livro “A caçadora”
Jessi e Zack do livro “A caçadora”
autora: Vivianne Fair
A noite estava até silenciosa
demais. Quer dizer, já eram o quê? 18:05 da tarde? Cadê Zack que não veio me
atormentar? Será que está doente?
Certo, vampiros não ficam doentes.
Só fracos e ele, com certeza, não está fraco porque ontem mesmo fizemos uma
aposta imbecil, eu perdi e tive que deixar ele tomar uns dois litros de sangue
de mim.
Bem, não vou dizer que perdi sem
querer. Digamos que tudo contribuiu para que eu perdesse.
Meus hormônios, por exemplo. E
muito.
De qualquer forma, cadê Zack que
não...
Um som agudo na janela me fez
calar instantaneamente. Algo parara no parapeito da janela.
Eu tenho medo desse bicho. Bem,
não é como aranhas, que simplesmente tenho horror; nesse caso é mais...saircorrendogritandoefazendoescândalo.
Aranhas é travandonolugarsemsemexer.
Virei-me devagar e fitei a coruja
com aqueles olhos arregalados totalmente fixados em mim. Engoli em seco.
Christie, a gatinha preta que Zack me deu, se arrepiou toda e proferiu uma
ameaça para ela na sua língua gatonesa e eriçou todos os pelos do corpo.
Eu também eriçei todos os pelos do
meu corpo, mas além de ser totalmente não intencional, não era nenhuma ameaça
no meu caso. Era por me sentir totalmente ameaçada.
Agora você vê, isso é que dá ser
uma pessoa antiga, digo, vivida. A nossa família antigamente vivia colocando
medo na gente, né? Coisas tipo: não deixa chinelo virado que a mãe morre, se
deixar bolsa no chão perde dinheiro, se varrer os pés não casa.
Estou citando os três que mais me
davam medo.
Então me veio na lembrança aquela
fala: Se você encarar a coruja ela ataca seus olhos.
E agora? É superstição? E é
verdade que mariposa joga mesmo pozinho que cega a gente?
Até hoje a única coisa que sei é
que manga com leite não mata. Arrisquei uma vez e amei. E eu sou super
corajosa, afinal já tomei Coca Diet com Mentos. Tive uma dor de barriga
daquelas, mas o que conta é a coragem, certo?
Enfim, a coruja nem ligou para a
Christie, que nessa hora já estava escondida embaixo da cama miando por
socorro. Era só eu e a ave noturna.
Respirei fundo e tomei coragem.
Cruzei os braços e encarei a invasora.
Por dois...três...
Quatro segundos. Depois disso, ela
gritou e voou ao meu encontro berrando o grito de guerra das corujas, e gritei
ainda mais alto meu grito de medo por tudo o que berra.
Saí disparado pela porta e corri
alucinada pelo corredor, empurrando todos os que se aproximavam contra a
parede. O que mais me enlouquecia era que a bicha me seguia! O que raios havia
com essa ave? Olha quanta gente inocente para atacar ao redor!
Desculpe estar sendo meio egoísta,
mas aposto que essa gente não tem o mínimo do pavor que eu tenho por esses
animais da noite. Se ainda fosse morcego...
Espera...eles transmitem raiva,
não é? Bem, não é nenhuma superstição, então tenho menos medo.
E cadê Zack que não aparece? Meu
príncipe de armadura...
Há, sei. O que ele iria fazer era
ou apontar para minha cara e cair na risada ou correr atrás de mim junto com a
coruja.
Bem, de qualquer forma ele é tudo
o que posso pensar no momento.
Na verdade, é nele em quem eu
penso em cada minuto do meu dia, seja para o bem ou para o mal.
Corri feito louca pela
universidade com a coruja no meu encalço. Aquilo era estranho; como ela podia
saber quem eu era no meio daquele monte de pessoas? E por que eu?
É isso. Devo exalar o cheiro do
medo. É por isso que vampiros, lobisomens, corujas, baratas, morcegos, cães
ferozes, todos me perseguem.
Deus, devo feder muito.
Entrei no laboratório da
universidade e fechei a porta, respirando fundo. Pense, Jessi, pense. Como se
livrar de uma coruja maluca?
Depois disso, Jéssica, descubra
como se livrar de um diretor maluco, um porteiro maluco, fãs de Zack malucas...
Não precisa tirar uma com a minha
cara, cérebro.
Sentei no chão. Excesso de
exercício mata? Espero que não.
Depois de arfar por alguns
instantes, ergui a cabeça.
A coruja estava em cima da mesa à
minha frente me fitando fixamente.
Ah, a janela do laboratório.
Claro, as maiores janelas da universidade estão lá na parede e a esperta aqui
nem pra pensar nisso. Bom, eu me rendo.
Tampei meus olhos com as mãos e
olhei pela frestinha. O fato de me render não quer dizer que vou sair ferida de
mão beijada.
Foi aí que percebi que a coruja
tinha um papelzinho amarrado na pata esquerda, do tipo que se coloca em pombos
correios.
Mas que imbecil faria uma coisa
dessas?
A resposta veio à minha mente na
mesma hora em que pensei na pergunta.
Resmunguei e levantei meio
ressabiada. Gostaria que Zack parasse com esse tipo de brincadeira porque
sério...uma hora ele me mata do coração pra alegria do Eric.
A coruja ainda ficava paradona lá,
na dela. Ficava resmungando na língua das aves algo indecifrável, mas parecia
que também estava cansada de ficar me perseguindo. Com as mãos tremendo fui me
aproximando, tentando alcançar a pata e ao mesmo tempo pronta para arranhar a
ave se ela voasse na minha cara.
Toquei o papel e meu coração
disparou. Puxei lentamente... lentamente... lentamente...
Tirei!
Por favor, batam palmas pra mim!
Em algum lugar no mundo alguém tem que bater palmas pra mim! Não sou fadinha,
não sou a Sininho, não vou morrer se não fizerem isso, mas eu mereço! Afinal,
eu consegui superar meu medo. Isso deveria ser uma fonte de inspiração para
todas as pessoas do mundo porque no fim das contas eu...
Aah, sim. A mensagem.
Hesitante, abri o papel devagar,
esperando encontrar algo horrendo. Afinal, estava amarrado em algo que me dá um
medo horrendo.
No papel estava escrito...
Uh! Uh! Uh!
Zack
Sabe qual o meu problema? É ainda
levar esse vampiro desmiolado a sério! Peguei meu celular e disquei. Ele não
atendeu. Estranho, normalmente ele atende e ainda grita ‘há-há’ no maior estilo
Simpsons.
Percebi que já tinha perdido um
pouco o medo da coruja, já que estava apontando para a mensagem e resmungando.
– Você aí, ô da garra afiada. Sabe
o que essa mensagem imbecil quer dizer? Afinal, é ‘corujês’. Zack está em
perigo ou coisa assim? Ou é só sarro mesmo?
Ela me fitou novamente e
resmungou.
– Uh!
Estou bem arranjada. Limpei a
sujeira da roupa e quando alcancei a porta, tomei um novo susto. A coruja
estava subitamente íntima de mim, se achando a BFF (Best Friend Forever) quando
pousou em meu ombro. Segurei um gritinho quando senti as garras sendo fincadas
em minha pele.
Força, Jessi. Seus olhos continuam
intactos.
Quando saí novamente percebi que
muitos olhos não perfurados estavam virados na minha direção. Claro, afinal de
contas uma louca de cabelos vermelhos saiu disparada gritando pelo corredor,
empurrando as pessoas contra a parede e sendo seguida por uma coruja saída do
inferno. Nada demais.
Linda, a líder de torcida
loiríssima, veio ressabiada em minha direção.
– Tipo assim, isso aí é uma
coruja?
Não, é um espanador com olhos
arregalados.
Ataca ela, espanador! Ataca!
Jessi, chega. Você é superior.
– É uma coruja, sim.
– O diretor não vai gostar disso,
tá?
– Nem eu gosto.
O diretor Anderson foi outro que
brotou no meio do nada e veio na minha direção, provavelmente atraído pelo
barulho. Diretores sempre são atraídos pelo barulho.
– Senhorita Jéssica...isso aí é
uma coruja?
Meu Deus, não tem aulas de
biologia nessa universidade?
– SIM, SENHOR, É UMA CORUJA.
Cuidado que ela bica.
Pelo menos, nessa hora, queria que
bicasse.
– Senhorita Jéssica, sabe que não
admitimos animais na universidade...
Acho que eu deveria dizer que tem
uma gata preta no meu quarto, mas agora já me afeiçoei a ela.
– O senhor tem uma espingarda?
Ele hesitou por uns instantes.
Depois corrigiu a postura.
– Bem, bem, não precisa se livrar
assim da pobre ave. Podemos chamar o controle de animais ou...
– Tá, tá, deixa que eu dou um
jeito nela, seu diretor. Papai embaixador que mandou, você sabe.
Pronto. Agora ele sossega.
Saí pelo corredor ainda sentindo
os olhares pelas minhas costas e tenho certeza que ouvi um “Viu, eu disse que
era uma bruxa! Só assim para conseguir conquistar o Zack.”
É, mas eu fosse bruxa, teria
poderes...certo, deixa pra lá. Por mais ridículos que sejam, continuam sendo
poderes.
Alcancei o jardim ainda com a
coruja empoleirada no meu ombro, tentando dizer a mim mesma que ela não podia
bicar meu olhos já que está virada para o outro lado.
Espera, as corujas não podem virar
a cabeça 180 graus? Ai, meu Deus...
Alcancei o prédio de Zack. Alguma
coisa muito errada devia estar acontecendo para ele não me sacanear assim que
li a mensagem. Talvez com essa mania de fazer piadinhas ele acabou caindo em
algo sério.
Conta uma novidade agora, né? E lá
vou eu para o buraco junto com ele. Pfff.
Subi as escadas um pouco temerosa.
Sempre que chego ali sou surpreendida com algum vampiro de plantão. Quanta
gente quer acabar com Zack, fala sério.
Digo isso no sentido bom e no
sentido mau.
Quando estava passando pelo segundo
andar, senti uma presença vampiresca desconhecida ao mesmo tempo em que a
coruja BFF sacudiu as asas. Ela também sentiu ou sua intenção era apenas me
matar do coração?
Subitamente ela emitiu o grito de
guerra das corujas e eu gritei e me joguei no chão. Senti um vento passando
rápido pelo meu cabelo e ouvi um baque surdo. Um vampiro havia se jogado sobre
mim e, quando me joguei no chão, ele acabou se estatelando na parede.
Ponto pra mim apesar disso ter
sido totalmente sem querer!
Ele rosnou e se voltou na minha
direção.
Epa! Acertei na cagada, mas isso
não quer dizer que consiga novamente.
Quando ele girou o corpo e eu
cobri meu rosto – parece que essa se tornou minha mais nova maneira de me
defender – ouvi novos gritos e abri uma frestinha na mão. A coruja havia voado
no rosto dele e atacado – acredite se quiser – seus olhos! Bati palmas enquanto
o vampiro rosnava para ela e tentava afastá-la debatendo-se.
Achei que estava segura, mas
lembrei que corujas não tem garras bentas e nem feitas de madeira. O que quer
que a minha nova BFF faça, ele ia se recompor rapidinho. Comecei a subir as
escadas que faltavam gritando o nome de Zack. Ele devia estar em apuros,
afinal, talvez aquela mensagem realmente quisesse dizer alguma coisa em código
cifrado e e não pude entender. Zack fala dezenas de línguas diferentes –
algumas inclusive mortas como ele – e talvez corujês seja uma que...
Senti dedos frios no meu pescoço e
não consegui mais gritar. Estava frita, assada, cozida na manteiga. O vampiro
havia me alcançado e pude sentir sua fúria em forma de hálito mortal na minha
orelha.
Fim da linha pra mim.
Gemi alto e soltei um gritinho, a
única coisa que consegui pronunciar.
– Uh!
Fechei os olhos, mas nada aconteceu
nem mesmo depois de alguns segundos. Um vento ainda mais rápido que o anterior
passou pelos meus cabelos.
Arrisquei uma olhada.
Zack fora tão rápido no salvamento
que agora finalizava o vampiro, cujo corpo sumiu em cinzas no chão.
– Jessi! Ah, meu Deus, Jessi, você
está bem? Por que não me disse que estava em apuros?
– Eu gritei o tempo todo!
– É, mas com seus gritos já estou
acostumado. Eles nem me convencem mais.
– Ora, seu...
– Aah, você conheceu o Severus! –
ele estendeu o braço e a coruja subitamente levantou voo e parou devagar em seu
braço.
– Severus? De Severus Snape?
– Pelo visto ele entregou a
mensagem direitinho! Bom menino!
– Como sabe que é ‘menino’?
– Porque ele parece menino. Então
agora é menino.
– Grande explicação.
– E olha pra cara dele. Ele parece
severo, né? Até parece que está julgando alguém.
– Zack, é uma coruja. Elas sempre
parecem que estão julgando alguém.
– Bom, agora é meu bichinho. Quer
dizer, eu não teria morcegos. Eles parecem ratos.
– Corujas comem ratos.
– De qualquer forma ele merece um
biscoito! Corujas comem biscoito?
– Não, acabei de dizer que elas
comem ratos ou...ei, espere aí! Que raios de mensagem foi aquela, afinal?
– Ah, a mensagem? Pensei que
soubesse, afinal, você veio, né?
– Eu vim porque te liguei no
celular e você não respondeu!
– Eu queria que você decifrasse a
mensagem antes de responder.
– Que mensagem?? Uh Uh Uh parece
uma vaia!
– Tadinho de você, Severus, ter
que aturar os gritos da Jessi. Vai ganhar dois ratinhos!
– O QUE ESTAVA ESCRITO LÁ?
– Tudo bem, relaxe, Jessi. Vem
cá... – ele estendeu o braço e acariciou meus ombros – o que estava escrito na
mensagem...
– Sim?
– ... era uh uh uh.
– Zack... me dê um motivozinho
para não te matar agora.
– Severus ia furar seus olhos.
– M...mentira.
– Quer arriscar?
– Não.
– Então entra aqui, Jessi. Vamos tomar
um chazinho – você, pelo menos – no meu quarto e esquecer essa bobagem toda.
Você deve estar apavorada...
– Só entro aí quando você me dizer
o que significava aquela mensagem.
– Bem, te dou duas alternativas.
Eu te digo o que era e você não entra mais no meu quarto ou não te digo e a
gente troca uns beijinhos aqui dentro.
Respirei fundo.
Quem se importa com a curiosidade
afinal?
Afinal, ela matou o gato.
Curiosidade malvada.
Vivianne Fair
Eu amo corujas! :P